quinta-feira, 27 de março de 2008

Fica conosco, Senhor!

Durante a semana que se segue ao Domingo de Páscoa, são feitas as leituras da experiência dos discípulos de Jesus acerca de Sua Ressurreição. No domingo, na segunda-feira e na terça-feira, o Evangelho nos contou como é que reagiram as mulheres que foram visitar o sepulcro, os soldados que o guardavam, e Pedro e o jovem João assim que souberam da notícia.

No entanto, em minha opinião, o relato mais emocionante é o feito na liturgia de ontem e de hoje, o dos denominados “discípulos de Emaús”. Veja este trecho do Evangelho escrito por Lucas (cap. 24, vers. 13-35). E porque este trecho se mostra tão emocionante?

Trata-se do relato de dois dos discípulos de Jesus que, completamente entristecidos com a morte de Jesus (e “morte de cruz”, que era destinada apenas aos criminosos) e desiludidos com tudo o que Jesus havia dito a eles, resolveram “arrumar as trouxas” e sair de Jerusalém, resolveram fugir de tudo o que os fizesse lembrar e reviver de todos aqueles momentos junto de Jesus.

Estavam tão desesperançados com todas as zombarias e os argumentos que ouviram em Jerusalém, que sequer reconheceram o seu Mestre, ressuscitado, no meio do caminho, achando se tratar de um forasteiro, de um desconhecido que se põe a caminhar junto com eles...

E quantas vezes nós também, desiludidos com tudo o que vemos e ouvimos no mundo, agimos como os discípulos de Emaús e tentamos abandonar tudo para trás, achando que assim podemos fugir da presença real de Jesus e de seus ensinamentos?

Como podemos muitas vezes caminhar pelas “estradas da vida” e acharmos que estamos sozinhos?

Lembro de algo engraçado que, há quase dois anos, aconteceu comigo e que é motivo até hoje de brincadeira entre meus amigos... Eu viajei acompanhado para Paris, mas acabei ficando mais uns dois dias naquela cidade, sozinho. E, como hotel é igual a plano de saúde (sempre tem que se contratado, mas deve ser usado pouco), resolvi conhecer uma praça famosa daquela cidade. E, sozinho, rodava em torno daquela praça repleta de gente nas ruas e nos restaurantes e pensava comigo, “como seria bom ter alguém conhecido aqui comigo para conversar e compartilhar tudo o que eu estou vendo!”

Mal eu sabia, mas uma semana depois recebi um e-mail de um amigo que, ao baixar para o computador as fotos da máquina seu pai que também visitava (sem eu saber) Paris, encontrou uma foto onde, há menos de um metro de seu pai, lá estava eu, bem em destaque na foto, caminhando no meio daquele povo todo!

Será que agimos como eu e como os discípulos de Emaús, que viajávamos sem olhar para o lado, sem perceber que, bem perto de nós, estava quem achávamos que nunca iríamos mais achar?

Por que deixamos os nossos olhos se fecharem diante de toda descrença e toda tristeza que as pessoas nos trazem? Por que deixamos de reconhecer a presença de Jesus a caminhar conosco, a partilhar a Sua Palavra, e a partir o Pão?

O Papa João Paulo II, ao escrever a carta Mane Nobiscum Domine (em português, “Fica conosco, Senhor”), inspirada neste relato evangélico, escreveu algo bem interessante para esta reflexão:

Na estrada de nossas dúvidas e de nossas inquietações, às vezes de nossas ardentes desilusões, o divino Caminhante continua a fazer-se nosso companheiro para nos introduzir, com a interpretação das Escrituras, na compreensão dos mistérios de Deus.”

Que possamos, a exemplo dos discípulos de Emaús, pedir sempre a Jesus para ficar conosco, para que Ele nos dê força e compreensão necessárias para que nós nos transformemos de medrosos para verdadeiros mensageiros e anunciadores de Sua Ressurreição e de Sua Palavra! Um forte abraço a todos vocês, Guilherme.

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