domingo, 23 de março de 2008

Acorda, tu que dormes

Sempre ao proferirmos a nossa profissão de fé, falamos que o Nosso Senhor Jesus Cristo, após sua dolorosa Paixão, “padeceu e foi sepultado, desceu à mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia”.

Mas, o que seria essa “mansão dos mortos”?

Explica-nos o Catecismo da Igreja Católica:

633. A morada dos mortos, a que Cristo morto desceu, é chamada pela Escritura os infernos, Sheol ou Hades (531), porque aqueles que aí se encontravam estavam privados da visão de Deus (532). Tal era o caso de todos os mortos, maus ou justos, enquanto esperavam o Redentor (533), o que não quer dizer que a sua sorte fosse idêntica, como Jesus mostra na parábola do pobre Lázaro, recebido no «seio de Abraão» (534). «Foram precisamente essas almas santas, que esperavam o seu libertador no seio de Abraão, que Jesus Cristo libertou quando desceu à mansão dos mortos» (535). Jesus não desceu à mansão dos mortos para de lá libertar os condenados (536), nem para abolir o inferno da condenação (537), mas para libertar os justos que O tinham precedido (538).

Veja assim que Jesus é o Redentor de todos, vivos ou mortos, que n’Ele depositavam a sua esperança, a da vinda de um Salvador, de um Messias, que viesse a realizar as promessas feitas por Deus ao seu povo eleito.

E, para que realizasse a Sua obra de salvação por completo, ou em plenitude, foi necessário que Jesus, para resgatar a todos que, antes de Sua vinda, já se encontravam mortos, descesse até a mansão dos mortos e, resgatando-os, ressuscitasse dentre eles no terceiro dia (conforme I Cor 15,20 - Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, capítulo 15, versículo 20).

Assim, novamente citando o Catecismo, “635. Cristo, portanto, desceu aos abismos da morte (539), para que «os mortos ouvissem a voz do Filho do Homem e os que a ouvissem, vivessem» (Jo 5, 25). Jesus, «o Príncipe da Vida» (540), «pela sua morte, reduziu à impotência aquele que tem o poder da morte, isto é, o Diabo, e libertou quantos, por meio da morte, se encontravam sujeitos à servidão durante a vida inteira» (Heb 2, 14-15). Desde agora, Cristo ressuscitado «detém as chaves da morte e do Hades» (Ap 1, 18) e «ao nome de Jesus todos se ajoelhem, no céu, na terra e nos abismos» (Fl 2, 10).

Inspirado por tal grandiosidade do amor de Deus, que buscou salvar a todos, vivos e mortos, um padre desconhecido que viveu no século IV na Grécia escreveu esta Homilia para o Sábado Santo (ou da Ressurreição), que hoje faz parte da Liturgia das Horas deste dia. Leiamos como este autor imaginou a chegada de Jesus à mansão dos mortos e a libertação de todos os seus justos e de todos que voluntariamente O acolheram como Salvador e verdadeiro Caminho para as portas do paraíso que para todos preparara:

Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos.

Ele vai, antes de tudo, à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, e agora libertos dos sofrimentos.

O Senhor entrou onde eles estavam, levando em suas mãos a arma da cruz vitoriosa. Quando Adão, nosso primeiro pai, o viu, exclamou para todos os demais, batendo no peito e cheio de admiração: “O meu Senhor está no meio de nós”. E Cristo respondeu a Adão: “E com teu espírito”. E tomando-o pela mão, disse: “Acorda, tu que dormes, levante dentre os mortos, e Cristo te iluminará. Eu sou o teu Deus, que por tua causa me tornei teu filho; por ti e por aqueles que nasceram de ti, agora digo, e com todo o meu poder, ordeno aos que estavam na prisão: “Saí!”; e aos que jaziam nas trevas: “Vinde para a luz!”; e aos entorpecidos: “Levantai-vos!”

Eu te ordeno: Acorda, tu que dormes, porque não te criei para permaneceres na mansão dos mortos. Levanta-te, obra de minhas mãos; eu sou a vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te, saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa.

Por ti, eu, o teu Deus, me tornei teu filho; por ti, eu, o Senhor, tomei tua condição de escravo. Por ti, eu, que habito no mais alto dos céus, desci à terra, e fui mesmo sepultado abaixo da terra; por ti, feito homem, tornei-me como alguém sem apoio, abandonado entre os mortos. Por ti, que deixaste o jardim do paraíso, ao sair de um jardim fui entregue aos judeus e num jardim, crucificado.

Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi; para restituir-te o sopro da vida original. Vê nas minhas faces as bofetadas que levei para restaurar, conforme a minha imagem, a tua beleza corrompida. Vê em minhas costas as marcas dos açoites que suportei por ti para retirar dos teus ombros os pesos dos pecados. Vê minhas mãos fortemente pregadas à árvore da cruz, por causa de ti, como outrora estendeste levianamente tuas mãos para a árvore do paraíso. Adormeci na cruz e por tua causa a lança penetrou no meu lado, como Eva surgiu do teu, ao adormeceres no paraíso. Meu lado curou a dor do teu lado. Meu sono vai arrancar-te do sono da morte. Minha lança deteve a lança que estava voltada contra ti.

Levanta-te, vamos daqui. O inimigo te expulsou da terra do paraíso; eu, porém, já não te coloco no paraíso, mas num trono celeste. O inimigo afastou de ti a árvore, símbolo da vida; eu, porém, que sou a vida, estou agora junto de ti. Constituí anjos que, como servos, te guardassem; ordeno agora que eles te adorem como Deus, embora não sejas Deus. Está preparado o trono dos querubins, prontos e a postos os mensageiros, constituído o leito nupcial, preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os tesouros de todos os bens e o reino dos céus preparado para ti desde toda a eternidade.”
(Texto retirado, com pequenas correções, do blog VerboPai)

Meus irmãos em Cristo Ressuscitado, uma excelente Páscoa a todos vocês e que tenhamos a certeza da Ressurreição de Nosso Salvador e a esperança de, um dia, “quando amanhecer o dia eterno, a plena visão,” podermos também compartilhar do banquete eterno. Do amigo, Guilherme.

3 comentários:

Unknown disse...
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Unknown disse...

Grande Quaresma!

Guilherme disse...

Iorio, seu sacana! Hahahaha!

O pior que eu, sem olhar para o link que você me mandou, autorizei o comentário! Seu safado! :D

Quando puder, me manda um email. Perdi o seu email daqui da minha agenda... Um abração!