domingo, 11 de maio de 2008

"Todos os ouvimos proclamar nas nossas línguas as maravilhas de Deus" (Atos 2,11)

Depois de quase um mês parado, por motivos diversos e nem sempre felizes, estou de volta, hoje, no Domingo de Pentecostes, e mais uma vez quem nos salva é o nosso querido tio Valadão, que me enviou um texto do Papa Bento XVI (muitos anos antes de ser Papa) que nos explica bem sucintamente porque a nossa Igreja é Católica (ou seja, universal). É graças à ação constante e gratuita do Espírito Santo que a Igreja nasce na festa hebraica de Pentecostes, cinqüenta dias após a Páscoa do Senhor, para todos os povos e línguas.

Neste Domingo de Pentecostes, começamos a liturgia com a narração da vinda do Espírito Santo aos apóstolos que estavam escondidos, com as portas cerradas (Livros dos Atos dos Apóstolos, cap. 2), com medo dos fariseus e dos romanos, mas, cheio da Força de Deus, eles ganham coragem, novo ânimo e saem às ruas, pregando a todos a Boa Notícia, a Boa Nova: não somos mais escravos, mas somos livres no Senhor.

Vejamos o texto do então Cardeal Joseph Ratzinger, escrito durante o Retiro Vaticano 1981:

"O dia de Pentecostes revela a catolicidade da Igreja, a sua universalidade. O Espírito Santo manifesta a sua presença pelo dom das línguas. Renova assim, mas invertendo-o, o acontecimento de Babel (Gn 11), aquela expressão do orgulho dos homens que querem tornar-se como Deus e construir com as suas próprias forças, isto é, sem Deus, uma ponte até ao céu, a torre de Babel. Esse orgulho provoca divisões no mundo e ergue os muros da separação. Por causa do orgulho, o homem reconhece apenas a sua própria inteligência, a sua própria vontade, o seu próprio coração; desse modo, ele já não é capaz, nem de compreender a linguagem dos outros, nem de ouvir a voz de Deus.

O Espírito Santo, o amor divino, compreende e faz compreender as línguas; ele cria a unidade na diversidade. Assim, desde o primeiro dia, a Igreja fala em todas as línguas. Por isso, ela é católica, universal. A ponte entre o céu e a terra existe mesmo: essa ponte é a cruz e foi o amor do Senhor que a construiu. A construção desta ponte ultrapassa as possibilidades da técnica. A ambição de Babel devia e deve fracassar; só o amor incarnado de Deus podia responder a tal ambição...

A Igreja é católica desde o primeiro instante da sua existência; ela abraça todas as línguas. O sinal das línguas exprime um aspecto muito importante da eclesiologia fiel à Escritura: a Igreja universal precede as Igrejas particulares, a unidade vem antes das partes. A Igreja universal não é uma fusão secundária das Igrejas locais; é a Igreja universal, católica, que gera as Igrejas particulares e estas não podem permanecer Igrejas senão em comunhão com a catolicidade. Por outro lado, a catolicidade exige a multiplicidade das línguas, a partilha e a harmonização das riquezas da humanidade no amor do Crucificado."