domingo, 6 de abril de 2008

Resgatados pelo precioso Sangue de Cristo

As leituras da missa de hoje cuidam não apenas nos discípulos de Emaús, dos quais falamos em 27 de abril, mas traz uma bela passagem da Primeira Carta de São Pedro, que compara Jesus a um cordeiro sem defeito e sem mancha:

“18 Pois vocês sabem que não foi com coisas perecíveis, isto é, com prata nem ouro, que vocês foram resgatados da vida inútil que herdaram dos seus antepassados. 19 Vocês foram resgatados pelo precioso sangue de Cristo, como o de um cordeiro sem defeito e sem mancha. (1Pd 1, 18-19)

Mas por que esta comparação?

A figura do cordeiro sempre esteve presente na história do povo de Deus, como um animal para sacrifício ao Senhor, para confirmar a aliança de Deus para com o Seu povo e para pedir perdão pelas faltas, sacrificando-o no lugar do povo.

No Gênesis, capítulo 15, Abraão selou a sua aliança com o Senhor, com o sacrifício de diversos animais, inclusive de um cordeiro de três anos. Era costume da época, ao se selar uma aliança ou um pacto, que as partes contratantes (geralmente reis e chefes de tribos) passassem de mãos dadas por meio das carnes sacrificadas de modo que, se uma das partes não fosse fiel à outra, ela teria o mesmo destino das carnes divididas.

No entanto, como o Senhor já conhecia o coração de suas criaturas e da fraqueza de Seu povo escolhido; como Ele já sabia que, apesar de Seu Amor sempre eterno e fiel, iria ser de tempos em tempos abandonado pelo povo que Ele escolhera; somente Ele, na forma de uma tocha ardente, sela esse contrato de fidelidade com Abraão, o patriarca de todo o povo de Deus, como se vê nos versículos 17 e 18:

“17 Quando o sol se pôs, formou-se uma densa escuridão, e eis que um braseiro fumegante e uma tocha ardente passaram pelo meio das carnes divididas. 18 Naquele dia, o Senhor fez aliança com Abrão: ‘Eu dou, disse ele, esta terra aos teus descendentes, desde a torrente do Egito até o grande rio Eufrates:’

Essa é apenas a primeira passagem da Bíblia sobre o cordeiro. Realmente, o cordeiro continuaria a ser usado pelo povo de Deus. O próprio Abraão, quando posto à prova (Gênesis 22), ao empunhar a faca para sacrificar seu próprio filho, foi impedido pelo Senhor, por meio de Seu Anjo, que o mostrou um cordeiro para que fosse sacrificado no lugar de seu filho que seria pai de Israel.

E, muitos anos mais tarde, na noite da libertação do povo de Deus da escravidão no Egito (Êxodo 12), o Senhor deu a ordem para que todo o povo de Israel imolassem em suas casas um cordeiro sem manchas ou defeitos, se alimentassem dele às pressas e marcassem as ombreiras das portas de suas casas com o seu sangue, como sinal de proteção.

Tais leituras e muitas outras, extraídas do que se convencionou chamar de Velho Testamento (Testamento é sinônimo de Aliança), vem apenas confirmar a Nova e Eterna Aliança que Deus realizaria de uma vez por todas com o Seu povo para a remissão de todos os pecados , de tudo o que pudesse afastá-lo de Seu Amor.

Já dizia a profecia de Isaías que “diz o Senhor. Já estou farto de holocaustos de cordeiros e da gordura de novilhos cevados.” (Is 1,11) e ainda:

4 Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado. 5 Mas ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniqüidades; o castigo que nos salva pesou sobre ele; fomos curados graças às suas chagas. 6 Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, seguíamos cada qual nosso caminho; o Senhor fazia recair sobre ele o castigo das faltas de todos nós. 7 Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador. (Ele não abriu a boca.)” (Is 53, 4-7).

É por isso que proclamamos que Jesus é o Cordeiro de Deus. Por causa de nossas faltas e nossos pecados, por causa de toda a nossa falta de amor ao Pai e aos nossos irmãos, Jesus se entregou na cruz sem reclamar ou protestar, “como um cordeiro que se conduz ao matadouro” para salvara cada um de nós com o seu preciosíssimo Sangue.

Assim como ocorrera com Abraão naquele monte, Jesus foi o Cordeiro sacrificado no lugar de Isaac, o Filho de Deus sacrificado para salvar os filhos de Abraão.

Assim como ocorrera na noite da Páscoa hebraica, da passagem do Mar Vermelho, da passagem da escravidão para a liberdade, Jesus foi sacrificado e derramou o Seu precioso Sangue para salvar as nossas casas e nos tirar da escravidão do pecado para a liberdade dos filhos de Deus.

Nossa libertada foi comprada por Deus, e foi comprada por um alto preço. Não por ouro, nem por prata, mas por Sangue. Sangue divino e precioso.

Que o Espírito Santo nos ilumine nesta semana e sempre para que tenhamos a consciência de tal alto preço que foi pago por cada um de nós e que possamos agir como verdadeiros remidos pelo preciosíssimo Sangue de Jesus derramado na cruz, para que, um dia, depois de cruzar este vale de lágrimas que vivemos aqui no mundo, possamos também, ao final de nossas vidas, nos juntar àqueles que lavaram as suas vestes e as alvejaram no Sangue do Cordeiro (Apocalipse 7, 14). Do amigo, Guilherme.

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